Uma casa modelo de alto padrão, que incorpora a rusticidade da praia e soluções sustentáveis. Esse é o conceito da Casa Gravatá, projetada pelo arquiteto Cezar Scarpato, da Scarpato Arquitetura Paisagística, de São Paulo. Atuando em projetos de pequena a grande escala, o profissional é associado à LEED (em português, Liderança em Energia e Design Ambiental), um dos maiores programas de certificação internacional de selos “verdes” para edificações, que orienta e oferece importantes diretrizes para obras com conceito sustentável.
Conversamos com Scarpato para trazer os detalhes desse projeto exclusivo, que foi consolidado em Caraguatatuba.
Blog De Huber: Qual foi sua inspiração para esse projeto? Como foi desenvolvido?
Cezar Scarpato: A Casa Gravatá surgiu com a vontade de se fazer uma casa de alto padrão com cara de praia: sofisticada, mas sem perder a simplicidade e rusticidade, com consciência ambiental e respeito à natureza local. A ideia era ter um projeto com design e conceito contemporâneo, com linhas retas e ambientes de estética clean, aliados a técnicas sustentáveis de projeto e execução. Além disso, pensamos na utilização dos acabamentos mais atuais do mercado, tornando a Casa Gravatá um showroom de novidades, conciliando com o sistema construtivo tradicional e considerando muito o fator econômico. É um projeto criado para ser um modelo de casa de alto padrão, sustentável e econômica.
Blog DH: O projeto seguiu as diretrizes do Conselho Internacional Green Building para construções sustentáveis. O que foi feito na prática e o que essas medidas trarão como benefícios ou resultados?
Scarpato: Os conceitos e técnicas de sustentabilidade estiveram presentes desde o primeiro croqui e layout da Casa Gravatá. Do posicionamento da casa no terreno à inserção de equipamentos para captação de energia solar e água de chuva, todos os elementos utilizados passaram por uma avaliação em relação ao caráter sustentável, em busca do equilíbrio entre custo, durabilidade e conceito. Além do principal intuito de um projeto sustentável vinculado à arquitetura, o equilíbrio socioambiental do crescimento urbano, há fatores diretos que beneficiam os proprietários desse tipo de projeto:
– Economia de materiais e redução de geração de resíduos, por meio do uso racional de formas de madeira, projeto de terraplanagem sem retirada ou compra de terra, otimização dos perfis estruturais de concreto, madeira e metal, assim como paginação de pisos e paredes visando o melhor aproveitamento de peças de revestimentos;
– Escolha por profissionais e fabricantes locais, reduzindo custo e resíduos no transporte, assim como incentivo à economia da região;
– Economia de energia elétrica, com medidas como redução do uso de iluminação e ventilação artificial e aquecimento de água, utilização de 100% de lâmpadas de LED, telhado preparado para instalação de placas de energia fotovoltaica, carregador elétrico de automóveis e eletrodomésticos com selo de eficiência;
– Redução no consumo de água, por meio da utilização de água de chuva para vasos sanitários e limpeza de áreas externas, e redutores de vazão em metais sanitários;
– Qualidade dos ambientes internos e externos, com a redução de produtos com emissão de gases tóxicos, conforto termoacústico com o correto posicionamento dos fechamentos e aberturas, e vistas interessantes gerando integração com a natureza;
– Baixa manutenção de materiais, com o uso de bastante vidro e caixilhos de alumínio de alta durabilidade e elementos em cor e acabamento natural, sem a necessidade constante de pintura e reposição;
– Paisagismo com espécies nativas ou adaptadas, que não precisam de rega automatizada e grandes cuidados, além de favorecer a fauna e flora local.
Blog DH: Quais foram as principais técnicas sustentáveis utilizadas nas primeiras fases da construção?
Scarpato: Vale destacar que, para um bom projeto, as técnicas sustentáveis devem ser consideradas logo no início e algumas delas são muito importantes nesta primeira etapa da construção. Como principais pontos estão:
– Posicionamento do edifício no terreno: é na implantação que definimos questões relacionadas a insolação, ventilação natural, privacidade com vizinhos, vistas interessantes, preservação de mata nativa, preservação do solo natural, fontes e nascentes, e evitamos corte ou aterro que modificam o perfil natural do terreno. Na Casa Gravatá, por exemplo, compramos apenas uma caçamba de terra mista para plantio do jardim e retiramos apenas uma caçamba de terra local, toda movimentação do solo proveniente da escavação das sapatas e da piscina foi distribuída no próprio terreno.
– Método construtivo: definindo o tipo de construção, conseguimos prever quais materiais serão necessários, fazer os cálculos estruturais para otimizar material e evitar hiperdimensionamento, e também a otimização de formas e escoras. Apesar de não termos utilizado formas e escoras plásticas, locadas com custo três vezes maior que o madeiramento geralmente utilizado, organizamos a execução de modo a aproveitar ao máximo as formas de madeira e reduzir o descarte. Boa parte dos pontaletes foi doado para lenha e as tábuas e madeirites foram direcionados para outra obra, resultando em descarte de apenas duas caçambas desse material.
– Gestão de resíduos: um item muito importante e de execução relativamente fácil em qualquer obra é a separação e correta destinação do lixo e entulho gerado. Desde o início da obra, é interessante criar uma baia e orientar todos envolvidos sobre a separação de lixos recicláveis. Cerca de 70% da capacidade dos aterros sanitários é preenchida com restos de construções não separados corretamente. Na Casa Gravatá, conseguimos até que a própria prefeitura retirasse parte do reciclável, descartando em caçambas apenas entulhos da obra não aproveitáveis e parte da madeira de formas.
Blog DH: Esse é o primeiro projeto do Litoral Norte que segue as diretrizes LEED?
Scarpato: Pode-se dizer que a Casa Gravatá é um dos poucos projetos com esta ideia de casa de alto padrão, que segue as premissas e as técnicas de sustentabilidade, imprescindíveis, a meu ver, a qualquer projeto e construção atual inteligente e com consciência socioambiental. O LEED é um dos órgãos mais famosos e reconhecidos, que orienta os profissionais associados a realizar projetos passíveis de sua certificação. São diversas as diretrizes e soluções que podem ser aplicadas aos projetos, divididas em categorias relacionadas aos temas: localização e transporte, terreno sustentável, uso eficiente de água, otimização energética, gestão de resíduos, qualidade interna do ar e inovação, entre outros. Para alcançar a certificação, é necessária uma pontuação mínima em pré-requisitos dentro destas categorias. O processo para conseguir o selo internacional deve contar não só com o projeto, mas com o acompanhamento da obra e posterior apresentação dos dados, como uma espécie de aprovação de prefeitura com auditoria de dados. Isso implica em um investimento financeiro ainda relativamente alto para edificações onde a economia também é fundamental. No entanto, o fato de seguir as diretrizes e construir o projeto preparando-o para uma certificação já o torna sustentável na medida que gera, de fato, benefícios a todos.
Blog DH: O que mais você destacaria nesse projeto?
Scarpato: Um item interessante no projeto da Casa Gravatá, e que representa bem a busca por equilíbrio em projetos sustentáveis, foi a escolha dos revestimentos e seu posicionamento na arquitetura. De modo a valorizar as poucas paredes externas com revestimentos, elas foram posicionadas na fachada principal, avançando para a área interna do living. Isso permitiu tirar o máximo em efeito e interação, já que a maior parte das outras paredes externas recebeu acabamento simples, com a estrutura de concreto aparente, sem revestimento, foram apenas rebocadas e pintadas. Outro detalhe interessante foi que, em vez de utilizar revestimentos naturais para efeito estético, como pedras ornamentais, mármores, uso excessivo de concreto e madeira maciça para marcenaria, optamos por peças industrializadas, cimentícias, cerâmicas, porcelanatos e madeira laminada, que remetem aos originais naturais, mas preservam as fontes destes recursos, incentivando milhares a fazerem o mesmo.
Para saber mais detalhes desse projeto exclusivo, acompanhe o Instagram da Casa Gravatá no @casagravata_
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